Alagoas: Capitania hereditária é a razão de seu atraso e miséria // IREMAR MARINHO

As causas da miséria secular de Alagoas passam ao largo das preocupações e propostas de compromissos dos candidatos melhor avaliados nas pesquisas eleitorais para governador: Benedito de Lira e Renan Filho. Quando muito, se pronunciam sobre a violência que
atormenta a sociedade, prometendo paliativos que sequer arranham o que seria necessário para proporcionar tranqüilidade à população e perspectivas para o crescimento humano.
Esses candidatos são bons pais, maridos, irmãos e amigos, mas nenhum deles morre de amores pela população alagoana ao ponto de ousar o compromisso de romper com a forma de governar o Estado, contando para isto com o mesmo teor de omissões nas promessas de atuação dos candidatos aos cargos parlamentares, nos níveis estadual e federal, com as raras exceções de praxe.
Lastimavelmente, tem sido assim, durante todo o período republicano, com os cargos políticos e os mandos passando de pai para filho, como se o Estado fosse uma capitania hereditária, vivendo-se ainda no tempo do Brasil colônia. Está nessa distorção política, que faz de Alagoas um feudo de famílias, uma das principais causas do nosso atraso e da nossa miséria.
Uma melhora considerável de padrão de vida se verifica em parte da população alagoana vitimada pela miséria, como conseqüência de políticas sociais adotadas pelo governo federal. É evidente que parte desse benefício é devolução do que o Estado contribui em impostos para o bolo da União. Entretanto, o que se reivindica é que Alagoas passe a andar com suas próprias pernas, deixando de depender do socorro externo, quando reúne condições de se re-arrumar no rumo à autonomia, como fizeram outros Estados da região Nordeste.
A razão do feudo político alagoano é a monocultura da cana-de-açúcar, que gera ao mesmo tempo a concentração de rendas nas mãos de poucas famílias, a fragilidade social e a sustentação da estrutura de poder, em todos os níveis. Nenhum desses candidatos, produzidos e atrelados a essa estrutura econômica está interessado em mudar as regras do jogo, contanto que a população continue dócil e servindo como massa de manobra para manter a aparência de democracia.
Espera-se o tempo em que a sociedade alagoana seja conscientizada dessa sua fragilidade econômica e social e chame para trabalhar suas melhores inteligências, na tarefa de mudar a estrutura econômica e a prática política medieval. Precisamos reunir condições para que o historiador gaúcho Décio Freitas, que estudou com afinco a sociedade alagoana, seja desmentido em seu pressuposto de que aqui predomina a oligarquia imortal, que já foi enterrada na maioria dos Estados do Nordeste.


Comentários

  1. Muito bem, André Cabral, para mim é uma grande honra ser acolhido no seu blog e ter a oportunidade de divulgar mais a nossa análise sobre a sociedade alagoana.

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